O crime chegou à porta: quando o Estado falha em proteger quem o enfrenta
É aterrorizador perceber que chegaram tão perto da minha família.” A frase do promotor Lincoln Gakiya não é figura de linguagem — é relato de sobrevivência. Há 20 anos, ele investiga o Primeiro Comando da Capital (PCC), e há mais de uma década vive sob escolta policial. O motivo: planos reiterados da facção para assassiná-lo, o mais recente revelado na Operação Recon, em outubro de 2025.
Gakiya é um dos principais nomes do Ministério Público de São Paulo no combate ao crime organizado. Foi ele quem solicitou, em 2018, a transferência de Marcola e outros líderes do PCC para presídios federais de segurança máxima. Desde então, tornou-se alvo prioritário. A facção monitorou sua rotina, filmou sua casa e usou drones para vigiar sua família.
O promotor denuncia que o Estado só reage após descobrir os planos — nunca se antecipa. E pior: não há legislação que garanta proteção a autoridades após a aposentadoria. “A gente não tem uma legislação. Nós temos projetos, mas foram suprimidos”, afirmou Gakiya, cobrando do Congresso a reinclusão de medidas no pacote anticrime.
A morte do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, executado em setembro após anos de ameaças do PCC, escancara essa falha. Fontes foi responsável por indiciar toda a cúpula da facção em 2006 e morreu sem escolta, vítima de uma emboscada em Praia Grande.
O recado é claro: quem enfrenta o crime organizado no Brasil corre risco real — e o Estado, por omissão ou lentidão, tem sido cúmplice involuntário. Gakiya segue vivo, mas não seguro. E enquanto a legislação não mudar, outros nomes podem engrossar a lista de vítimas.

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