Justiça freia avanço de loteamento e salva área de Mata Atlântica em Carapicuíba

Justiça freia avanço de loteamento e salva área de Mata Atlântica em Carapicuíba

Após denúncias de desmatamento na região da Fazendinha, em Carapicuíba, juiz determina paralisação imediata de obras e impõe multa de até R$ 100 mil por descumprimento.


A Justiça de São Paulo suspendeu a construção de um loteamento residencial em uma área de Mata Atlântica, localizada na região da Fazendinha, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. A decisão liminar foi concedida após denúncias de moradores e organizações ambientais, que alertaram sobre o desmatamento acelerado de uma das últimas áreas verdes da cidade.

Segundo o processo, as empresas responsáveis pelo empreendimento já haviam iniciado a derrubada da vegetação nativa em cerca de 200 hectares — uma área estratégica que forma um importante corredor ecológico entre a Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira. O juiz determinou a paralisação imediata das atividades e solicitou uma vistoria conjunta de órgãos ambientais para avaliar os danos. Caso a decisão seja descumprida, as empresas poderão ser multadas em até R$ 100 mil.

Moradores da região relatam que o desmatamento provocou fuga de animais silvestres, como quatis e cachorros-do-mato, e ameaçou nascentes e árvores em risco de extinção. “O que vemos no dia a dia são os animais desesperados tentando achar a casa deles”, contou Luciana Guariento, moradora local.

O loteamento teve aprovação original nos anos 1970, mas a área se regenerou naturalmente ao longo das décadas e voltou a ser considerada Mata Atlântica, bioma protegido por lei federal.

De acordo com o ambientalista Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), restam apenas entre 8% e 12% da cobertura original desse ecossistema no país. Ele alerta que o desmatamento de áreas contínuas pode isolar espécies e interromper corredores de biodiversidade, o que ameaça diretamente a sobrevivência da fauna.

“Quando eliminamos uma floresta, interrompemos o deslocamento da fauna e condenamos várias espécies ao desaparecimento local”, explicou Bocuhy.

A decisão judicial também destacou falhas de fiscalização da Prefeitura de Carapicuíba e a omissão de órgãos estaduais no controle do desmatamento. Em resposta, a Cetesb informou que o projeto foi aprovado antes da atual legislação ambiental e que, por isso, seguiu as normas da época. A companhia afirmou ter autorizado o corte de quatro hectares, mediante compensação ambiental de 13 hectares e preservação parcial da mata existente.

Por enquanto, as obras seguem paralisadas, e a expectativa é de que a área restante seja integralmente preservada, garantindo um respiro verde para a Grande São Paulo e reforçando a importância da proteção dos ecossistemas remanescentes da Mata Atlântica.

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