Espetáculo Cícera: o corpo feminino como território de memória e resistência

Espetáculo Cícera: o corpo feminino como território de memória e resistência

Quando o corpo conta histórias silenciadas.
O espetáculo-cícera não é apenas uma apresentação teatral. É um convite a mergulhar em memórias apagadas, em histórias que foram sussurradas por corpos femininos atravessados pela luta. Logo na primeira cena, sinto que o corpo-feminino-no-teatro se transforma em um arquivo vivo, que fala, grita e resiste.
Inspirada na vida de Cícera Maria da Conceição, mulher nordestina que migrou de Alagoas para São Paulo, a peça dá voz às tantas mulheres que foram silenciadas pela história oficial. Ela chega com quatro filhas e uma mala de farinha, mas carrega muito mais: dor, força, memória e esperança.
Um teatro que pulsa nas margens da cidade.

O grupo-contadores-de-mentira, fundado em 1995, é conhecido por suas montagens com forte engajamento político e estético. Com Cícera, o grupo reafirma sua identidade ao levar ao palco um teatro que brota das bordas, da oralidade popular, da rua e dos ritos.
Neste teatro-de-grupo-em-são-paulo, as margens ganham centralidade. A periferia é palco, é voz, é presença. A encenação se vale de relatos, documentos e lembranças para compor uma dramaturgia que não se pretende ilustrativa, mas sim visceral.
A força simbólica do corpo feminino no palco
Daniele Santana, atriz e autora da dramaturgia, é corpo e palavra. Ela não interpreta apenas Cícera; ela incorpora mães, trabalhadoras, migrantes, anciãs. Um corpo que abriga dores ancestrais e urgências contemporâneas.
A atuação não é linear nem didática. É simbólica, sensorial e intensa. Ali, o palco é ritual, é terreiro, é território. O corpo-feminino-no-teatro se inscreve como um gesto de cura e de confrontação.
O ritual da memória encenado
Cícera é também um tributo à ancestralidade. A cada gesto e palavra, sinto a presença das que vieram antes. As que migraram, trabalharam, pariram, resistiram. O espetáculo-cícera é uma oferenda de memórias compartilhadas com o público.
No palco, não há apenas encenação. Há um chamado. A encenação transforma a memória em acontecimento, em ato político, em afirmação de existência.
Uma experiência sensorial e transformadora
Com 70 minutos de duração e classificação indicativa de 14 anos, o espetáculo-cícera já percorreu diversos festivais nacionais e internacionais. Seu impacto é imediato e duradouro. Ele planta imagens no pensamento e no coração.
Esse é um exemplo potente de memória-e-resistência-no-palco. Um teatro que não busca apenas emocionar, mas transformar. Que não se acomoda na ficção, mas se arrisca na verdade dos corpos.
Onde assistir ao espetáculo
O espetáculo-cícera será apresentado no sábado, 2 de agosto de 2025, às 20h, na Refinaria Teatral (Rua João de Laet, 1507 – Vila Aurora, Zona Norte de São Paulo). A entrada é gratuita e a lotação é limitada a 40 pessoas.
Para mais informações: @refinariateatral ou refinariateatral@gmail.com.

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