Uma mãe vítima duas vezes da tragédia do metanol
Dona Maria do Rosário Evangelista foi uma das maiores vítimas dos casos de intoxicação por metanol que vêm sendo descobertos no país.
Dona Maria não consumiu, não passou mal e sequer ingeriu bebida contaminada. Ela foi vítima de todas as crueldades possíveis que essa contaminação pode gerar.
Seu filho, Cleiton da Silva Conrado, ingeriu a bebida, passou mal e veio a falecer em sua casa. Sua companheira, Jhenifer Carolina, que bebeu junto com ele, chegou a ser levada ao hospital, mas também acabou por falecer.
A primeira tragédia que Dona Maria do Rosário enfrentou obrigou-a a encontrar forças para lidar com a perda do filho — algo que nenhuma mãe deveria viver. Mas, infelizmente, ela atravessou outra tragédia logo em seguida.
As pessoas acusaram o seu filho, já falecido, de ter envenenado as bebidas consumidas por ele e pela companheira. Tomadas pelo ódio que marca os tempos de hoje, invadiram a casa onde ele morava, saquearam os seus pertences e ameaçaram incendiar o local. Sentindo-se ameaçada, Dona Maria do Rosário mudou-se para o Ceará com a família.
Vivemos tempos de desumanidade. Sabemos que existem pessoas desequilibradas que envenenam companheiras e filhos, mas, se queremos que a nossa sociedade funcione, mesmo com todas as suas falhas, devemos entregar a função de resolver os problemas e fazer justiça aos seus agentes — ou seja, à polícia e à Justiça.
Se Cleiton tivesse sobrevivido, certamente seria morto pelos vizinhos. Em atos de selvageria, muitas pessoas ainda acreditam que têm o direito de fazer justiça com as próprias mãos. Além de não resolver nada na sociedade, esse comportamento não inibe o crime — e, em muitos casos, apenas o agrava.
Toda a solidariedade a Dona Maria do Rosário Evangelista e à sua família, que estão a viver tragédia após tragédia: primeiro, com o falecimento de Cleiton; depois, com a selvageria dos vizinhos; e, por fim, com a dolorosa descoberta de que ele foi vítima da ganância de pessoas dispostas a tudo para lucrar — mesmo que isso signifique enganar e colocar vidas em risco.

Editor do Jornal Comarca Paulista | Graduado em Gestão de Recursos Humanos







